Meditar não é parar de pensar

Desenvolvendo o pensamento abstrato
Texto por Daniela Dias

Algumas pessoas acreditam que o objetivo da meditação é cessar completamente a produção de pensamentos e imagens mentais. Na verdade, pensar é natural e o que queremos com mindfulness é aprender a lidar com o esse processo de uma forma mais tranquila. Com o tempo de prática, aprende-se a observar a própria mente, compreendendo melhor sua mecânica de funcionamento.

Há o entendimento das palavras, mas ao mesmo tempo um entendimento que transcende… A prática então, nos ajuda a descobrir estas outras formas de pensar, para além das palavras, que nos leva do conhecido terreno do pensamento cognitivo para os fascinantes caminhos das sensações abstratas.

Para começar, as técnicas de mindfulness, inicialmente, são um convite a aceitar os pensamentos como eles são — sejam eles quais forem — e apenas aprender a observar como eles naturalmente surgem e tentam se impor enquanto tentamos meditar. Com a prática, passamos a compreender o quanto é difícil escolher focar em uma atividade sem preocupações, lembranças, planejamentos, enfim, distrações daquilo que nos propomos a fazer.

Compreender o porquê disso nos leva a reconhecer o quanto o ato de pensar com palavras é sobrevalorizado em nossa cultura: Penso, logo existo, afirmava Renée Descartes, filósofo iluminista, cujas ideias têm influenciado até hoje nossa maneira de conceber a realidade e nossas relações sociais. Pensar com palavras, ninguém duvida, é superimportante, mas seria suficiente para definir quem somos e toda nossa compreensão do que é a existência?

A reflexão que a técnica mindfulness, por sua vez, propõe é outra: se a experiência de ser humano está relacionada unicamente a pensar, o que dizer de todas as demais ações que estão acontecendo, independentemente disso como, por exemplo, respirar, comer, regular os batimentos cardíacos, sentir frio, calor, o contato com o solo, estabelecer um ponto de equilíbrio e perceber tudo o que está ao nosso entorno?  Onde se encaixariam essas atividades, sensações e percepções que independem do ato de classificar, analisar ou planejar, se não fossem justamente na dimensão do existir?

Com o entendimento de que existir vai além de pensar, é possível perceber mindfulness como uma técnica capaz de equilibrar as diversas dimensões do nosso ser completo (e complexo), na medida em que trabalha o controle dos níveis de atenção, e desenvolve a percepção do pensamento abstrato. Uma meditação capaz de nos guiar rumo a uma maior autonomia em relação à forma como lidamos com nossas vivências e emoções, tornando-nos coautores das nossas próprias histórias.

Posted on: 07/06/2018